Angústia despolitizada.
Perpassa classe, cor, gênero e o que mais que o valha.
A minha condição humana. A sua. A nossa.
Variações mais ou menos agudas de dramas comuns.
Escolher uma coisa é sempre abrir mão de outra. E nenhum caminho leva a felicidade plena.
Pessimista?
Não, não, sou bem otimista. Porque se fosse só isso, estava bom.
Total de visualizações de página
sábado, 2 de novembro de 2013
segunda-feira, 8 de julho de 2013
Normalidade irritatória
O que me falta é paciência.
Irritação, sobra.
Estou doente?
Maníacodepressivabipolarhiperativaansiosaqualquercoisaqueovalhaquetechamemdelouca
Nada, nada.
Estou normal.
Mais normal do que nunca.
Irritação, sobra.
Estou doente?
Maníacodepressivabipolarhiperativaansiosaqualquercoisaqueovalhaquetechamemdelouca
Nada, nada.
Estou normal.
Mais normal do que nunca.
sexta-feira, 5 de abril de 2013
Genéricas CL
Organizar o quarto, lençóis limpos, abajur aceso. Deito sobre a cama com as costas no travesseiro contra a parede e pego o livro. A mediocridade esclarecida de Lóri me conforta. Como me conforta! Sinto uma identificação dupla, com a personagem e com a escritora e, assim, sinto-me mais próxima de mim. Estranha e tosca sensação.
Penso então que ela não é só minha.
O número explosivo de teses e dissertações sobre Clarice Lispector alimentam essa hipótese. Fora as centenas de livros escritos que copiam o seu estilo.
Tudo ruim.
Não importa.
O que importa é nos salvar, nós, genéricas.
Dentro de cada gaiola, encontrar um pouco de poesia e conforto intelectual.
Penso então que ela não é só minha.
O número explosivo de teses e dissertações sobre Clarice Lispector alimentam essa hipótese. Fora as centenas de livros escritos que copiam o seu estilo.
Tudo ruim.
Não importa.
O que importa é nos salvar, nós, genéricas.
Dentro de cada gaiola, encontrar um pouco de poesia e conforto intelectual.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Mínima 9
"O homem sábio não persegue o que é agradável, mas a ausência de dor"
Aristóteles, Ética a Nicômaco apud Schopenhauer, A arte de ser feliz
Aristóteles, Ética a Nicômaco apud Schopenhauer, A arte de ser feliz
Lisbon Revisited (1926)
Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.
Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...
Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.
Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.
Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...
[...]
Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.
Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...
Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...
Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...
Álvaro de Campos
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja -
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.
Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida...
Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.
Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me naufrago;
ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.
Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.
Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui...
[...]
Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.
Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver...
Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir...
Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...
Álvaro de Campos
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
Estava na biblioteca, as pessoas passam, meu olhar desatento as focaliza e retorna ao livro. Em minha direção vem um homem muito alto. Olhei, como sempre. Nosso olhar se cruzou em susto. Ele era negro. Não "moreno" que passa desapercebido em nossa escala cromática. Ele era negro preto retinto. Olhar para ele, em susto, imediatamente me causou um constrangimento, eu senti vergonha e logo pensei: se eu fosse esse cara eu ia mandar todo mundo pra puta que pariu.
20/07/2012
20/07/2012
Assinar:
Postagens (Atom)