É um cabelo grosso e acinzentando, como deveria ser, bem no meio da cabeça.
Olho bem no espelho diante do susto, procuro mais algum sinal, vejo então que os olhos já tem duas ruguinhas de cada lado. Sinto um desespero e um certo orgulho diante dessas evidências, e penso: terei que enfrentar essa situação tão séria e banal como todo mundo, universalmente, a enfrenta.
E sei que para as mulheres a questão é ainda mais complexa...
Tento me imaginar daqui a dez anos, quando todos esses pequenos sinais estarão mais acentuados. Vem à minha mente a imagem de outras mulheres que conheço, lindas, bem mais velhas do que eu. Também para elas, e para todas as outras, isso sem dúvida, em algum momento, foi uma questão permeada por certa angústia diante de um espelho bem iluminado. E, no entanto, estão aí, como se sempre tivessem tido 50 anos.
A gente envelhece todos os dias.
De pouquinho em pouquinho.
E isso, na verdade, é bom.
Bom porque não é de repente, não é que um dia você acorda e sua cara já não é mais a mesma. Bom, porque ela nunca foi a mesma. Criança, adolescente, jovenzinha, mulher feita, mulher madura, uma senhora, uma velhinha. Todos os dias, um rosto diferente. Desde sempre.
Bom porque o tempo, ao invés de ficar parado, anda. E ao invés de fazer isso silenciosamente, vai nos mostrando "estou andando e, olha, você está mudando junto comigo", "caminhamos lado a lado, todos os dias", ele vai explicando pra gente. Assim, ele permite que a gente também siga nessa linha, só que vivendo.
E a vida, por mais dura que possa nos parecer às vezes, é a única oportunidade segura que nós temos de pensar, sentir, agir, amar e mudar. E isso, em si e sem mais explicações, só pode ser bom.
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