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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mari (taca)

“Morreu o periquito
A gaiola vazia
Esconde um grito”
Leminski

Mari morreu durante a noite.
Quando acordamos, estava morta.
Fiquei chocada.
Embora eu já soubesse que a qualquer momento isso iria ocorrer, os três dias que ela ficou aqui em casa, agonizando, foram significativos pra mim.

Acho que os homens, e as mulheres, são sobretudo uns bobos.

Mari chegou na sexta, acidentalmente. Apareceu no chão do nosso quarto com a pata muito machucada.
Rapidamente consegui uma gaiola com a vizinha e a hospedei, com água, frutas e até sementes (também emprestadas) em cima da geladeira, onde ela ficaria ventilada e minimamente tranquila.

No sábado acordei e imediatamente fui ver se ela havia sobrevivido. Sim! Estava lá! Medrosa, arisca, desconfiada, sofrida, linda. Verde, com diversos tons, e os olhinhos negros.
Ah Mari! Se eu pudesse te ajudar de fato! E se você pudesse compreender que eu não quero o seu mal...
Quando sai à rua, a passear com os cachorros, que mundo novo se abria pra mim ao buscar seus companheiros: um bairro repleto de árvores altas e volumosas, um céu cheio de nuvens, e dezenas de aves a cruzar barulhentas essa exótica paisagem urbana.

Sempre tive algum interesse por pássaros.
Sempre fui radicalmente contra a ideia cretina de manter passarinhos saudáveis em gaiolas.

Digo que somos uns bobos porque temos a tendência... É melhor eu mudar para a primeira pessoa. Digo que sou uma boba porque eu, assim como outros indivíduos e individuas, tenho a tendência boba de romantizar a natureza.
A poesia barata.
Os pássaros verdes cantam, oh quanta beleza.

Mari, eu de fato me apaixonei por você e a sua morte foi um choque pra mim.

No domingo acordei cedo e, preocupada, fui trocar o jornal da gaiola, já todo cagado. Após alguns acordos não verbais, superamos essa etapa e deixei a ave novamente digna, num ambiente limpo, com água, sementes e frutas novas. Após um acordo com todos aqui em casa, decidimos que no dia seguinte a levaríamos ao veterinário especializado para verificar se havia esperanças.

À tarde, rompendo o silêncio raro da casa, Mari começou a cantar alto e forte. Aproximei-me curiosa e vi que no fio de tensão, em frente à minha casa, havia outra maritaca também a cantar. Elas conversavam!

Mari se comunicava.
Mari se despedia.

Ela, silvestre,
Eu a olhar, interpretativa.

Fiquei de fato emocionada.

Foi nessa mesma noite que ela partiu.
Ás minhas tantas angústias difusas, somou-se essa.

-

Em cima da geladeira, a gaiola vazia ainda espera que eu a devolva para a vizinha.
Já se vão dias.

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