Queria beber
Cerveja e fumar um cigarro.
Fui no bar Pinguim e, como diria um amigo meu, parecia encontro de casais com cristo. Caretice.
Sentei no bar ao lado, qualquer coisa da Linguiça.
Escrevo um pouco bêbada neste momento, bêbada de chopps e cigarros e lasanha congelada bolonhesa que já pedi no hotel e chegou em cinco minutos no quarto, assinei a nota, inclusive já comi.
Mesmo assim resisto e escrevo.
Na garoa, na mesa externa do bar, no meio do chopp. o cara pediu conversa. Era isso que eu contava. Ele pediu conversa e eu dei. Logo chegaram seus amigos. Fui simpática e afirmei que jamais fui petista.
Chegou Julyana, prazer, puta da vida diante do descaso de seu ficante que vive em São Paulo e só quer saber de trabalhar e ganhar dinheiro. Ela da Paraíba, vive no Rio de Janeiro. Disse ela então: nunca havia entendido porque no Sudeste existem tantas feministas; no Nordeste somos bravas e fortes e isso está resolvido; aqui não, nos tratam constantemente como filhas da puta. Gostei. Disse a ela que gostei e que também era feminista. Os homens riram desconcertados.
Convidaram-me para um churrasco. Agradeci e não fui. Tinha um encontro com a lasanha bolonhesa congelada.
No hall do hotel, um pouco sem graça, eles já atrasados, nos reencontramos inesperadamente.
O amigo do Linguiça afirmou convicto: ela não vai ao churrasco porque é vegetariana.
- Eu não sou vegetariana, nunca falei isso.
Ele se constrangeu: eu confundi feminista com vegetariana, desculpa.
-ok, te desculpo.
Peguei o elevador e subi satisfeita, apesar.
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sábado, 21 de março de 2015
quinta-feira, 19 de março de 2015
domingo, 15 de março de 2015
Anonimato
Tantos querem a projeção. Sem saber como esta limita a vida. Minha pequena projeção fere o meu pudor. Inclusive o que queria dizer já não posso mais. O anonimato é suave como um sonho. Eu estou precisando desse sonho. Aliás eu não queria mais escrever. Escrevo agora porque estou precisando de dinheiro. Eu queria ficar calada. Há coisas que nunca escrevi e morrerei sem tê-las escrito. Essas por dinheiro nenhum. Há um grande silêncio dentro de mim. E esse silêncio tem sido a fonte de minhas palavras. E do silêncio tem vindo o que é mais precioso que tudo: o próprio silêncio.
Clarice Lispector - A Descoberta do Mundo
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História de Família
Minha história de família,
dói como uma ferida aberta,
mas não sangra mais.
Minha história é minha e só minha,
e também de minha irmã.
Tem afetos, amores, traições, abandonos, choros e loucuras.
Tem mãe, pai, cunhada, avó paterna, duas filhas.
E muitas instabilidades.
Minha história de família
à tona outra vez.
Não sei se a enfrento ou se me escondo
diante de tanto revés.
É o pai que amou a cunhada e abandonou a mãe que ficou triste quase louca, e as filhas criadas pela avó que cuidou e amou, não sem dó. É um eu que se fez assim um pouco torto e tenta ser firme mas também acha que pode ficar tonto. É muita coisa incerta e doída mas que afinal com um pouco de sensibilidade e instinto, quem sabe é que não vira poesia.
dói como uma ferida aberta,
mas não sangra mais.
Minha história é minha e só minha,
e também de minha irmã.
Tem afetos, amores, traições, abandonos, choros e loucuras.
Tem mãe, pai, cunhada, avó paterna, duas filhas.
E muitas instabilidades.
Minha história de família
à tona outra vez.
Não sei se a enfrento ou se me escondo
diante de tanto revés.
É o pai que amou a cunhada e abandonou a mãe que ficou triste quase louca, e as filhas criadas pela avó que cuidou e amou, não sem dó. É um eu que se fez assim um pouco torto e tenta ser firme mas também acha que pode ficar tonto. É muita coisa incerta e doída mas que afinal com um pouco de sensibilidade e instinto, quem sabe é que não vira poesia.
Aniversário - Álvaro de Campos
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
quarta-feira, 4 de março de 2015
Homenagem confidencial à minha mãe I
Chavela Vargas - En el Ultimo Trago
"Nada me han enseñado los años
Siempre caigo en los mismos errores
Otra vez a brindar con extraños
Y a llorar por los mismos dolores"
"Nada me han enseñado los años
Siempre caigo en los mismos errores
Otra vez a brindar con extraños
Y a llorar por los mismos dolores"
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