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terça-feira, 27 de outubro de 2015

Caxambu

Dez anos se passaram
O cigarro voltou
O humor solitário
um andar esperançoso e soturno
Passo em frente ao calçadão
Dezenas de amigos conversam
Dez anos se passaram
Eu novamente não paro
Sigo para o quarto
Gosto da minha companhia
Não preciso tanto de gente, talvez, como os outros, talvez.
Dez anos se passaram e ainda não sei de quase nada.
Aquela menina ainda mora aqui, morará sempre, sinto orgulho dela, firme.
Mas existe agora uma mulher, a mesma, eu mesma, prazer.

terça-feira, 20 de outubro de 2015


"É nesse contexto que podemos identificar o olho não como o órgão que vê, mas como o órgão que chora".



Veena Das

domingo, 11 de outubro de 2015

Viagens

Eles me deixaram uns
dias

meu desejo
viajo comigo
durmo comigo
como comigo
fumo comigo
estudo sexualidade
comigo

sem eles
sem tanto
fantasio comigo
leio comigo
escrevo comigo
cago comigo
passeio comigo
eu posso
só.



sábado, 10 de outubro de 2015

Encuentro (Alfonsina Storni)

Lo encontré en una esquina de la calle Florida
Más pálido que nunca, distraído como antes,
Dos largos años hubo poseído mi vida...
Lo miré sin sorpresa, jugando con mis guantes.

Y una pregunta mía, estúpida, ligera,
De un reproche tranquilo llenó sus transparentes
Ojos, ya que le dije de liviana manera:
- Por qué tienes ahora amarillos los dientes?

Me abandonó. De prisa le vi cruzar la calle
Y con su manga oscura rozar el blanco talle
De alguna vagabunda que andaba por la vía.

Perseguí por un rato su sombrero que huía...
Después fue, ya lejana, una mancha de herrumbre.
Y lo engulló de nuevo la espesa muchedumbre.


[Ocre - 1925]


quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Despecho (Juana de Ibarbourou)

Ah, que estoy cansada! Me he reído tanto,
Tanto, que a mis ojos ha asomado el llanto;
Tanto, que este rictus que contrae mi boca
Es un rastro extraño de mi risa loca.

Tanto, que esta intensa palidez que tengo
(Como en los retratos de viejo abolengo),
Es por la fatiga de la loca risa
Que en todos mis nervios su sopor desliza.

Ah, que estoy cansada! Déjame que duerma,
Pues, como la angustia, la alegría enferma.
Qué rara ocurrencia decir que estoy triste!
Cuándo más alegre que ahora me viste?

Mentira! No tengo ni dudas, ni celos.
Ni inquietud, ni angustias, ni penas, ni anhelos.
Si brilla en mis ojos la humedad del llanto,
Es por el esfuerzo de reírme tanto...

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Uma lagartixa está na cortina lisa e transparente do boxe do chuveiro.

É pequenininha.

Á água quente, fervendo, minha pele seca resistindo, o cérebro sem ensaboar.

Olho para seus olhos arregalados.

Sinto dó dela,
também de mim.
Agarradas
a qualquer coisa de instável, de precário, de inaceitável, prestes a deslizar.

A umidade quente do banheiro se acentua,
a superfície vai ficando mais escorregadia, com dezenas de gotículas de água.
Por quanto tempo será possível se segurar?

Ela não tem culpa,
Yo, tampoco.
O acaso nos trouxe aqui.

Desligo o chuveiro com pressa, antes que tudo se complique ainda mais.




Hoje não escrevo - Drummond

"Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples caridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. [...]

O que você perde em viver, escrivinhando sobre a vida. Não apenas o sol, mas tudo que ele ilumina. [...]

Ah, você participa com palavras? Sua escrita - por hipótese - transforma a cara das coisas, há capítulos da História devidos à sua maneira de ajuntar substantivos, adjetivos, verbos? Mas foram os outros, crédulos, sugestionáveis, que fizeram o acontecimento. Isso de escrever O Capital é uma coisa, derrubar as estruturas, na raça, é outra. E nem sequer você escreveu O Capital. Não é todos os dias que se mete uma ideia na cabeça do próximo, por via gramatical. E a regra situa no mesmo saco escrever e abster-se. Vazio, antes e depois da operação."

Carlos Drummond de Andrade, O poder ultra jovem, 1982