"Na primeira noite de representação lírica, Fernando levou ao teatro a família. Foi uma festa para as três senhoras; D. Camila, apesar de sua lhaneza e modéstia, sentiu ao atravessar a multidão pelo braço do filho um aroma de orgulho, mas desse orgulho repassado de susto, que é antes a consciência da própria humildade, do que desvanecimento de egoísmo. As filhas partilhavam este sentimento; e acreditavam que todas as outras moças lhe invejavam aquele irmão." (Narrador, p.47)
"O ouro desprende de si não sei que miasmas que produzem febre, e causam vertigens e delírios. É necessário ter um espírito muito forte para resistir a essa infecção" (Aurélia, p. 170)
"Aqueles que se exercitam em jogar as armas, pensam que tudo se decide pela força. O mesmo acontece com o dinheiro. Quem o possui em abundância persuade-se que tudo se compra" (Aurélia, p. 170).
Senhora (1875), José de Alencar (1829-1977)
"[Em Senhora] Trata-se da compra de um marido; e teremos dado um passo adiante se refletirmos que essa compra tem um sentido social simbólico, pois é ao mesmo tempo representação e desmascaramento de costumes vigentes da época, como o casamento por dinheiro. Ao inventar uma situação crua do esposo que se vende em contrato, mediante pagamento estipulado, o romancista desnuda as raízes da relação, isto é, faz uma análise socialmente radical, reduzindo o ato ao seu aspecto essencial de compra e venda." (Antonio Candido in Literatura e Sociedade, Capítulo 1, Crítica e Sociologia).
Nenhum comentário:
Postar um comentário