28.
"Sozinho no apartamento em que ela há pouco tinha morrido, eu ia assim olhando sob a lâmpada, uma a uma, essas fotos de minha mãe, pouco a pouco remontando com ela o tempo, procurando a verdade da face que eu tinha amado. E a descobri."
29.
[...]
"Durante sua doença, eu cuidava dela, estendia-lhe a tigela de chá de que ela gostava, porque nela podia beber de maneira mais cômoda do que em uma xícara, ela se tornara minha pequena filha, confundindo-se, para mim, com a criança essencial que ela era em sua primeira foto. Em Brecht, por uma inversão que outrora eu admirava muito, é o filho que educa (politicamente) a mãe; contudo, jamais eduquei minha mãe; jamais a converti ao que quer que fosse; em certo sentido, jamais lhe "falei", jamais "discorri" diante dela, para ela; pensávamos, sem nos dizer, que a insignificância ligeira da linguagem, a suspensão das imagens, devia ser o espaço mesmo do amor, sua música."
Roland Barthes - A câmara clara [1980]
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