Total de visualizações de página

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Pelo menos 7 vidas

Quem me dera poder ter outras vidas,
ao invés de sujeitar-me a essa limitação medonha.

Em uma das minhas vidas, aos 60 anos, doaria toda a minha herança (que eu teria então, claro) aos moradores de rua que vivem perto da Estação da Luz e me mudaria poderosa para uma comunidade hippie no sul da Bahia, sambando na cara da sociedade.

Em outra vida, eu seria uma grande médica, talvez gastroenterologista. Engajada com ideais até meio antiquados de esquerda, eu teria no Che Guevara a minha grande inspiração, chocando meus pacientes de Moema com sua foto em pleno consultório decorado em tons pasteis.

Na terceira vida, eu seria um empresário de sucesso e exerceria todo o meu poder de líder e gestor. Desse modo (e não de outro), eu seria respeitado e amado e também muito odiado por todos os meus subordinados.

Já em outra vida, eu seria uma escritora decadente e escreveria tudo tudo tudo o que eu pensasse, inclusive como meu cotovelo pode ficar acinzentado minha unha sem corte meu sovaco peludo e como isso é importante para a humanidade, sim,o é. Amarga, me suicidaria ao final, em um rio, plagiando Virginia Woolf. Mas pensando bem, uma morte no Rio Pinheiros seria para lá de original, garantindo inclusive notinha de capa na Folha de São Paulo.

Na quinta vida eu casaria com um homem lindo, e usaria vestidos caríssimos, e provocaria inveja em todas as minhas colegas de escola ao protagonizar dezenas de capas de revista, sempre com a barriga malhada de fora. Eu seria brega, eu seria cafona, eu seria ridícula.

Numa outra vida.

Mas não.
Só tenho está.
Estas mãos.
Essas pequenas rugas já na testa.
Esses traumas e medos.
E um bocado de mediocridade.
Também um pouquinho de feliz, afinal.

Oh vida minha, minha única amada vida, seja! Já que não podemos ser outra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário