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domingo, 31 de maio de 2015

Somos todas Vivian Maier

Olhar o mundo percebendo.
Olhar e registrar. No corpo, no coração, na alma, no filme fotográfico.
Silenciosamente.
A dor dos outros.
A mediocridade dos outros.
A vivacidade dos outros.

Vivian Maier espiou pela porta entreaberta, como bem fazem todas as babás , e viu coisas que outras pessoas não viriam.
Sentiu-se só e desolada. Eu também me sinto. Você também se sentiria.

Ela, sorrateiramente, registrou tudo. E não contou pra ninguém. Eu, entendendo-a muito bem, também não vou contar.






terça-feira, 19 de maio de 2015

Difícil de entender, a mãe da menina. Dos quatro adultos da casa, era a mais recolhida. Não que fosse fraca. Era muito forte, até. Mas a força dela ficava toda emborcada pra dentro, uma criança não conseguia ver de jeito nenhum.


O pai, a mãe e a filha
Ana Luisa Escorel




domingo, 17 de maio de 2015


Muito cedo foi tarde demais em minha vida. Aos dezoito anos já era tarde demais.




"O amante", Marguerite Duras



quinta-feira, 7 de maio de 2015

Pensamento bobinho nas nuvens

A vida da gente, talvez, seja como um rio visto sob diferentes perspectivas.

Visto da margem, dá a impressão que o rio está indo seguro, com tanta água, rumo a algum lugar certeiro.
Provavelmente o mar, como aprendemos na escola.

Do céu, vemos que não.
Olhando pela janelinha do avião, oh rio, quantas curvas inúteis, serpenteia um pouquinho melancólico.

Mas é essa a sua verdadeira natureza: errante, bonito, espontâneo e vital.



segunda-feira, 4 de maio de 2015

Contradições de um gentleman

Ele não gosta muito de pobres.
Ele não faz nenhuma questão de conhecer a parentela suburbana de sua esposa.
Ele, em seu íntimo, pensa que uma parte da população mundial deveria sim desaparecer, são muito improdutivos, não contribuem para o progresso.
Ele não gosta muito de ir em casa de velhos, o ambiente é muito baixo astral. 
Ele é o único que leva sua mãezinha na cadeira de rodas para passear e almoçar fora no domingo.

sábado, 2 de maio de 2015

Quando crescer
quero ser poeta.


Mas você já não é grande?


ainda não,
ainda não,


Bande de filles - "Garotas"

Filme belo sobre garotas negras e belas com escolhas, mas todas sem saída.

We're beautiful like diamonds in the sky - Rihanna. 


Diretora: Céline Sciamma
Atrizes lindas: Karidja Touré, Assa Sylla, Lindsay Karamoh
Avaliação: ótimo

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Dedicatória


Este ensaio é dedicado ao homem ordinário. Herói comum. Personagem disseminada. Caminhante inumerável. Invocando, no limiar de meus relatos, o ausente que lhes dá princípio e necessidade, interrogo-me sobre o desejo cujo objeto impossível ele representa. A este oráculo que se confunde com o rumor da história, o que é que pedimos para nos fazer crer ou autorizar-nos a dizer quando lhe dedicamos a escrita que outrora se oferecia em homenagem aos deuses ou às musas inspiradoras?


Michel de Certau

A invenção do cotidiano - vol. 1 - Artes de fazer
Editora Vozes

Demais

Todos somos diferentes.
Somos insuportavelmente muitos.
Andando na rua, assistindo à televisão, comendo pão francês.

Pequenas escolhas, grandes escolhas, de cada um.
Tão diferentes.
Expectativas de ser especial - pelo menos eu - os outros também, mas menos.

Não, vocês não estão entendendo: somos muitos.
Se ao menos meu sofrimento, ou o seu, estivesse em um filme famoso, valeria a pena?

Quantas vezes se nasce e se morre e se nasce em uma mesma vida?
Quantas vezes podemos morrer e morrer? Oh, céus, como pode ser difícil.
E sendo tantos...
Será que Deus olharia pra cada um?

Quando eu era criança,
e vovó contava que papai do céu dá a mão pra gente quando a gente precisa,
eu, no escuro do quarto escuro, olhando os desenhos da madeira na porta do banheiro sob a luz fraquinha que entrava pelo corredor,
imaginava,
será que a mão de Deus tem ao menos um dedinho pra cada pessoa na Terra?
Quantos muitos dedos teria que ter...

Somos insuportavelmente muitos.