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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Comum

Acho que sou muito mais comum do que penso. É isso que tento provar para mim o tempo todo, contrariando uma vontade de potência que há aqui dentro que diz não, você é diferente, você é especial, você é inteligente. é quase como se houvesse uma "essência", ou um "destino" ou uma "voz divina" que me diz isso lá do fundo, sobre  eu ser especial. vai ver que é algum mecanismo compacto de auto-ajuda. penso que eu deveria fazer análise e conversar sobre isso. porque o problema todo está em, nas atitudes do dia-a-dia, nos pensamentos do dia-a-dia, nas crônicas do dia-a-dia, eu ser uma pessoa mediana. meu marido diz que sou mais inteligente do que ele, o que, em parte, confirma essa minha expectativa. ai eu penso, tá vendo, ele me conhece bem e percebe. acho que isso é uma das coisas mais importantes para mim em uma pessoa, a inteligência. mas inteligência demais me irrita e me dá medo, ainda mais quando vem acompanhada de egoísmo e arrogância. conheço pessoas assim que são sedutores e desprezíveis ao mesmo tempo. e conheço pessoas de inteligência mediana que são generosos e humildes. estes também são sedutores e desprezíveis.
eu sou um pouco de tudo isso. descubro que sou um pouco de tudo. não consigo  fazer os testes do facebook porque eles fazem perguntas cretinas que exigem respostas únicas - qual a característica que você mais admira em uma pessoa, qual você mais odeia. eu não sou assim. as mesmas coisas que eu admiro, eu as odeio. em mim e nos outros. as mesmas coisas que sonho, desprezo. e as que desprezo, vejo que podem ser úteis. só de falar sobre isso agora, penso que essa mesma indecisão pode ser um defeito mas penso também que pode ser um bom sinal, de complexidade, densidade de espírito.
Ha Ha Ha
só rindo
perdi os cigarros. achei os cigarros. fumo
meu marido viajou. sinto alívio e raiva. 1) me sinto abandonada. 2) me sinto livre.
escrevendo isso vejo que são sentimentos binários. opostos.
Há pouco vi um filme do woody allen ( a outra)  e me deu medo de ficar velha, sozinha e sem filhos. quem sabe eu não viro psicanalista - eu sempre teria um paciente para ouvir e analisá-lo. o analista é muito superior ao paciente. é uma relação de dominação. eu quero dominar? talvez. que horror. (...) se for verdade, concluirei que as pessoas, incluindo eu mesma, são muito mais desprezíveis do que parecem. e sedutoras. voltamos ao binarismo.
eu quero fazer cinquenta anos e virar psicanalista. CV: doutora, dois divórcios, uma filha, passado familiar complexo, adolescência conturbada, quase foi adicta, dois livros razoavelmente interessantes em sua aérea de pesquisa, atualmente atende em perdizes.  parou de fumar com 33 anos. idade de cristo.
como tenho medo de mim.

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