A janela. Nossa sala está iluminada. É dia, é domingo, é à tarde. O sol que rebate na lateral do prédio e entra aqui novamente, desdobra-se em diversos ângulos e curvas. Mas o incrível são as plantas em cima da mesinha encostada na parede debaixo do vidro. Poderíamos fazer um desenho, uma aquarela, e alguém colocaria o verde bem verde diluído em água, leve sutil. E o sol entrando, acariciando, transformando a sala num ambiente mais feliz.
Porém o desenho não conseguiria dizer que por trás, havia duas mulheres firmes a olhar as plantas, enquanto almoçavam, mudas e silenciosas, contemplando. E ainda que o desenho recuasse até essa perspectiva, não daria conta de transmitir-nos que as duas pensavam em muitas coisas enquanto olhavam as plantas e almoçavam. Cada uma a seu jeito, cada uma um mistério. O namorado, trabalho o ônibus cheio e o gato morto na calçada. O gato do vizinho. O chefe. Talvez a brutalidade com que ela tratou seu antigo amigo da pensão. E ainda assim, ainda que o bom desenhista rabiscasse lenta e bruscamente, traço por traço, as idéias-sentimentos-sensações-ressentimentos de cada uma delas, e cada parte e parcela do ser que constitui duas mulheres, ainda sim não daria conta.
Mas por pior, ou por melhor que fosse a arte, ainda assim, seria bonito.
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